Muitas foram as pessoas que me fizeram a justa pergunta: “e então, sentimento de dever cumprido?”
Eu não sei
responder a isso. Pelo menos ainda não.
Uma experiência
como a de viver quatro anos em São Tomé e Príncipe não se elabora da noite pro
dia e nem tampouco se escreve em meia página. Não sei se havia dever a cumprir.
O pouco que eu
consigo dizer hoje é: considero que alguns alunos entenderam o recado que eu
não fui dar, e o recado era simples como dizer “libertem-se”.
Simples?
(Eu fui para STP para ser professora de língua portuguesa - a minha língua materna - e de literatura brasileira, além de "animar" outras atividades ligadas à cultura brasileira. Nunca fui professora de língua portuguesa lá.)
(Eu fui para STP para ser professora de língua portuguesa - a minha língua materna - e de literatura brasileira, além de "animar" outras atividades ligadas à cultura brasileira. Nunca fui professora de língua portuguesa lá.)
Paro agora essas
linhas e escrevo para não sentir o tempo do espaço vazio.
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Conquistar outras
liberdades, a de pensamento e a de expressão, foi o desafio lançado para
aqueles alunos que passaram por mim. Alguns (não-alunos) entenderam que eu era/sou “louca”
(a vantagem das pequenas sociedades é que se sabe de tudo. E é também a
desvantagem!) Mas que maravilha ter sido louca! Isso significa que alguma coisa
diferente eu tinha pra mostrar (e, convenhamos, lidar com a diferença é muito
difícil). Entre caminhos tranquilos e outros extremamente ruidosos dessa longa
jornada, eu prefiro trazer pra casa
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os zelos dos
poucos amigos são-tomenses e brasileiros que fiz
a beleza dos
versos de Conceição Lima
o romanceiro
albertiniano (termo que acaba de nascer, retirado do limbo por 4 mãos)
a marca da
paisagem no olhar
o mar...
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Guardo também um
sentimento de gratidão pela terra que me acolheu. Nem sempre foi fácil viver
ali, mas da paz de atravessar a rua silenciosa e tomar um café no Avenida da Inácia
e seus gatos... não se esquece.
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Elaboro os
ferozes embates em relação à língua (embora vá tomar algum tempo). Aqui no
Brasil, no meio em que convivo, aceitamos a nossa língua, não temos problemas
com nossos sotaques, e nem sempre sabemos que Portugal está na Europa (?).
Gosto de voltar a conviver com uma aparente paz linguística — a paciência — e o respeito
para com os valores de cada marca dos milhões de falantes desta terra brasilis. Estamos longe de ter uma
política linguística ideal (mas o que será esse ideal?), no entanto o caminho
que já percorremos em relação ao colonialismo é mais longo e, se eu comparasse
com STP, estaria sendo no mínimo injusta. Cada povo tem seu tempo de maturação. É preciso
respeito e cuidado.
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Mas eu queria desejar que STP fosse ele mesmo, com suas falas deliciosas
e todas as suas outras quatro línguas na rua, nas bocas das pessoas, nas
salas de aula!!! Eu sinto saudade do rrrr que só ouvi lá.
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E a vida segue
apressada lá embaixo, na rua. Uma imensidão de carros e ônibus.
É preciso ter
calma agora.
E aos poucos ir
relembrando o que significaram pra mim esses anos todos, em que eles me
fizeram ser diferente, marcando o indivíduo que sou (posso ser) hoje.
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Estes são
fragmentos apenas. Para não deixar o blog tanto tempo abandonado!(?)
Fragmentos.